quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O pardal colorido

Gosto de ver o pássaro.
O pardal, tão comum, tão cinza, tão mais um.
Tão João ninguém, tão despercebido, tão rotina.
Tão só mais um zé pousado sobre o fio elétrico
O pássaro que nossos olhos já não veem.
Mais um pardal, entre tantos pardais, mas gosto de olhá-lo.
Aqui ele é tão singular, tão único.
Não necessariamente mais um pardal,
Mas é o pardal, aquele que consegue voar
Em terra de cegos quem tem um olho é rei
Aqui
Em terra de presos, quem sabe voar é rei
Por isso, enquanto entrego livros entre a portinhola enferrujada
O voo do pássaro me é tão bonito
mais vale um passarinho voando do que dois na gaiola
E vejo quem é rei voar
A liberdade dentro da prisão
O voo entre as grades.

Gosto da ingenuidade de seu bater de asas, que se diz livre.
Que se diz voar sobre um campo florido
Que se diz saber voar, mesmo dentro da prisão.
E tudo se confunde, liberdade, prisão
Prisão, liberdade, liberdade, prisão.
E eu que não sei voar?
Mais um preso?
Aqui e lá fora. Dentro, fora
Fora, dentro, dentro, fora
Tudo se confunde
E quando sair daqui, ainda não voarei
E a prisão eu carrego comigo nos pés, mesmo vendo os pássaros
que não representam mais a liberdade,
porque no céu azulado tudo se confunde
tudo passa a ser mais um.


Gosto de ver o pássaro
Enquanto a liberdade caminha ao lado das grades em passos lentos, não sei se para frente ou para trás, para dentro ou para fora, é tudo uma questão de asas.

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