Em todo treze de agosto era a mesma
coisa. Toda a família de Bartolomeu se reunia no sítio da dona Cidinha. Era
aniversário da Vó.
Quando criança o sítio era como a
Disney Word para Bartolomeu. As galinhas, os cavalos, as vacas, os patos. O
menino gostava de correr atrás das galinhas, elas corriam engraçado. Gostava de
pisar na pata da vaca. Gostava de dar comidinha para o patinho. Mas depois de
crescido descobriu que animal e personagem da Disney são coisas bem diferentes.
E que animal não é tão legal.
Agora, com seus treze anos de vida,
e muita coisa vivida, considera o sitio a coisa mais chata e banal do mundo,
pior do que programa de culinária na TV.
Não tem nada para fazer. Video game. Internet. Asfalto. Shopping.
Semana passada, a contragosto de Bartolomeu,
toda a família se reuniu novamente. Octogésimo segundo aniversário de dona
Cidinha.
E com a porção de coisas que se
podem inventar quando não se tem nada para fazer, Bartolomeu inventou uma
brincadeira nova. Apostar corrida com o rio.
Subiu no morro do sol da Lucéia do
seu Valmor, da melhor mandioca do distrito, e voltou feliz da vida. Cheio de
verdades para contar.
- Vó! Vó! Eu ganhei do rio Vó!
Apostei corrida com ele. Começamos em cima do morro, lá onde o sol quase
encosta com a mão. Foi uma disputa acirrada, o rio corria ao meu lado. Quem deu
a largada foi a árvore, ela disse Já e
começamos a correr. Todos pararam para assistir nossa corrida, as pedras, as
nuvens, as flores. No início eu estava atrás do rio, mas quando eu vi a árvore
torcendo por mim, ela ia de um lado para o outro, dizendo: Vá Bartolomeu! Vá que o tempo também se vai! comecei a nadar no
vento, o tempo também soprava a meu favor. As formigas tiraram meu chinelo e eu
corri que corri, igual um pássaro no ar. Aí o rio ficou para trás e ganhei
dele. A árvore atirou um galho no céu na hora da chegada. O cachorro do mato
meu deu os parabéns pela vitória. E foi assim Vó, que ganhei do rio.
E a Vó disse: Mas essa corrida não
foi justa, menino. O rio já estava cansado ué. Ele correu durante a noite toda.
O rio começa a correr lá onde nasce o mundo, quando chega aqui já não se
aguenta mais das pernas.
E a mãe disse: Vai lavar esse pé
menino.
Bartolomeu lavou o pé, pegou três
pedaços de bolo de milho, chamou o cachorro do mato e foi lá onde nasce o
mundo.
Ele não poderia perder para o rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário