segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O dia em que Bartolomeu apostou corrida com o rio.


Em todo treze de agosto era a mesma coisa. Toda a família de Bartolomeu se reunia no sítio da dona Cidinha. Era aniversário da Vó.
Quando criança o sítio era como a Disney Word para Bartolomeu. As galinhas, os cavalos, as vacas, os patos. O menino gostava de correr atrás das galinhas, elas corriam engraçado. Gostava de pisar na pata da vaca. Gostava de dar comidinha para o patinho. Mas depois de crescido descobriu que animal e personagem da Disney são coisas bem diferentes. E que animal não é tão legal.
Agora, com seus treze anos de vida, e muita coisa vivida, considera o sitio a coisa mais chata e banal do mundo, pior do que programa de culinária na TV.
Não tem nada para fazer. Video game. Internet. Asfalto. Shopping.
Semana passada, a contragosto de Bartolomeu, toda a família se reuniu novamente. Octogésimo segundo aniversário de dona Cidinha.
E com a porção de coisas que se podem inventar quando não se tem nada para fazer, Bartolomeu inventou uma brincadeira nova. Apostar corrida com o rio.
Subiu no morro do sol da Lucéia do seu Valmor, da melhor mandioca do distrito, e voltou feliz da vida. Cheio de verdades para contar.
- Vó! Vó! Eu ganhei do rio Vó! Apostei corrida com ele. Começamos em cima do morro, lá onde o sol quase encosta com a mão. Foi uma disputa acirrada, o rio corria ao meu lado. Quem deu a largada foi a árvore, ela disse e começamos a correr. Todos pararam para assistir nossa corrida, as pedras, as nuvens, as flores. No início eu estava atrás do rio, mas quando eu vi a árvore torcendo por mim, ela ia de um lado para o outro, dizendo: Vá Bartolomeu! Vá que o tempo também se vai! comecei a nadar no vento, o tempo também soprava a meu favor. As formigas tiraram meu chinelo e eu corri que corri, igual um pássaro no ar. Aí o rio ficou para trás e ganhei dele. A árvore atirou um galho no céu na hora da chegada. O cachorro do mato meu deu os parabéns pela vitória. E foi assim Vó, que ganhei do rio.
E a Vó disse: Mas essa corrida não foi justa, menino. O rio já estava cansado ué. Ele correu durante a noite toda. O rio começa a correr lá onde nasce o mundo, quando chega aqui já não se aguenta mais das pernas.
E a mãe disse: Vai lavar esse pé menino.
Bartolomeu lavou o pé, pegou três pedaços de bolo de milho, chamou o cachorro do mato e foi lá onde nasce o mundo.
Ele não poderia perder para o rio.

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