quinta-feira, 17 de abril de 2014

Um dia frio.

Tudo é desenhável
enquanto não seja nada
enquanto não valha nada
enquanto não busque nada.

......

Sobre saudade

A chuva já cessou
a poça e a goteira ainda molham
mas é água
que não sacia a sede.

......

A justiça é mais violenta
do que o caos.

......

A literatura
já não está
além de mim

sábado, 12 de abril de 2014

Notícia: O menino que não vive sem água.

O menino, todos os dias,
caminha dez quilômetros
para pegar água no poço.
A água é utilizada para coisas básicas
e essenciais,
tais como:
Matar a sede
lavar o corpo
pintar com aquarela.

Achados no chão do caderno

O quadro do céu.

Sonhei que fazia uma cor no céu
na parede do meio dia
três pigmentos mesclados
Preto
a noite se fez assim.
A tinta ficou em mim
fiquei anoitecido rubro
E você, andorinha,
não pousou mais no meu jardim
voou para longe, além dos muros
outros oceanos
num céu azul ciano.
Hoje, as corujas me alimentam
e os vaga-lumes contam histórias
para eu dormir.

____

Eu não sei aonde vai
todo esse amor que se esvai
ex-amor?
Nunca mais?

____

Hoje o dia permaneceu nublado
também fiquei em cima do muro
entre a palavra e o silêncio
Não fui a outro lado
Além de mim
aqui.

____

Quem me dera
escrever coisa nenhuma
ver coisa nenhuma
ser nada mesmo.
Mas ser coisa alguma
dita meu destino,
então poetizo-me
que é ação de desperdiço
me encho de vazios
e nada fico
porque me quero
vivo.


Não importa aonde leva,
mas que seja um lugar
que continue a levar.

A cidade de Carolina.

Inspirado no livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino.

A cidade de Carolina é composta por pessoas. Seus telhados, suas portas, suas paredes, seus alicerces, são pessoas. Culpa de uma arquiteta forasteira que passou por lá. Assim, cada lar é parte de cada sujeito, uma extensão da cor do olho, dos fios de cabelo, do formato do seio. Não existe mapa de Carolina, pois diariamente as ruas trocam de nome e de lugar. Cada casa muda de lugar com o seu dono, porque cada dono é o seu lar. Nada é estático.
Quando é dia de festas, todas as portas ficam abertas, e todos entram e todos saem dos lares de cada um. O um é o outro e o outro é o um. Os mais jovens sempre deixam as janelas abertas, que é para o vento nordeste sempre trazer uma novidade da capital, com sopros de aventura e revolução. E quando alguém se apaixona, os lençóis do coração são trocados, para o aconchego do amor.
Somente nas noites de lua cheia, os moradores de Carolina saem de suas casas. Nessas noites ninguém dorme. São tempos de limpeza, uma faxina do lar. Assim, cada um vai morar em seu sonho. E andam pelas ruas levando seus sonhos amarrados por um fio, como se estivessem carregando uma pipa. Caminham seguindo seus sonhos até a lua se desencher, até se transformarem em pessoas novas.
Nessa peregrinação, até hoje, ninguém sabe se são as pessoas que carregam seus sonhos pela mão ou se são os sonhos que carregam as pessoas pelo coração.