Fazia muito tempo
que meus olhos não viam longe
Que não viam
distantes
Que não viam
quilômetros
Que não saiam por
aí para brincar
Era tanto espaço,
tanto vento solto,
Tantas estrelas,
tanto luar,
Tanto chão e tanto
ar
Que até me sentia
livre
Sem paredes, sem
quadrados
Sem repressões de
cimento para os olhos
E sem ruas que
guiasse os passos futuros
O caminho estava
livre
E os olhos queriam
correr
Pareciam crianças
ansiosas ao ver um parque de diversões
Correram que
correram
Subiram em árvores
Beijaram o rabo da
vaca
Conversaram com a
uva, se identificaram muito
Nadaram
Pularam entre os
morros
Pularam entre as
estrelas
Mas respeitaram o
repouso da mãe lua
E pediram sua
benção
Os olhos se
despiram
De seu ver
civilizado
Esqueceram-se de
olhar para frente
E bateram num
rígido tronco de árvore
Se esbugalharam em
pedaços
E riram que riram
Tal qual criança
travessa
Foi quando
estraguei meus olhos
Quando desregulei
meu olhar
O olhar criança,
O olhar estrangeiro
O olhar
transgressor
O olhar sensível
A partir desse dia
Passei a ter um
olhar sensível para as coisas
Tal qual o poeta
E quando voltei
para as paredes
Para os condomínios
Para os paralelepípedos
Para o centro
Para a prisão dos
olhos
Eu já via diferente
Via invisibilidades
gritantes
Via o que não tinha
cor,
A esperança
Via o que não tinha
formas
A dor
Via o que não tinha
massa
A fome
Via a inspiração e
a expiração
que caminhavam em
marcha lenta
A inspiração que entrava
em depressão.
Via a singularidade
A incompletude
e o inconformismo
no conforto do
conformismo.
A vida e a poesia
que se espremiam e
se confundiam.
A dor, a espera e a
esperança
A leitura, a
escrita e a luta
Os olhos sensíveis
passaram a ver
Passaram a se mover
E passaram a
produzir lágrimas também.
Como os olhos de um
romântico sonhador.
A vida e a poesia pra sempre confundidas, pra sempre necessárias em meio ao riso sério e estridente que ecoa dentro das paredes, nos vãos, nas muragens.
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