Era um dia de sol, de saturar
as cores e os corações em uma magia colorida, que é o verão. No entanto, nesse
cenário fabular, o homem lagarto vivia embaixo da ponte, na sombra e sobra da vida, à beira do mangue.
Não que ele fosse meio animal, com pele escamosa e áspera ou com calda longínqua,
como se fosse uma personagem da mitologia grega. O homem lagarto, talvez, fosse
o homem mais desumanamente humano da cidade.
Sob a sombra ninguém o via.
Era um lagarto esquecido com sua lata de coca-cola na mão. Os outros viviam com
outras próteses: o homem colorido com sua bicicleta e seu capacete, a mulher
segurando firmemente o volante de seu carro, o menino de óculos e celular. O homem
lagarto só levava sua lata vazia, onde ele cheirava o resto do que não havia
bebido, inalava o resto do resto do resto da sociedade que construía shopping,
casas e condomínios sobre o mangue que o homem lagarto se banhava e que
justificava sua vida, sua palavra e seu nome, que ele mesmo apelidou, mas que
ninguém sabe, porque o homem lagarto vive embaixo da ponte, na sombra e sobra
da vida.
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