sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O homem lagarto.


Era um dia de sol, de saturar as cores e os corações em uma magia colorida, que é o verão. No entanto, nesse cenário fabular, o homem lagarto vivia embaixo da ponte, na  sombra e sobra da vida, à beira do mangue. Não que ele fosse meio animal, com pele escamosa e áspera ou com calda longínqua, como se fosse uma personagem da mitologia grega. O homem lagarto, talvez, fosse o homem mais desumanamente humano da cidade.

Sob a sombra ninguém o via. Era um lagarto esquecido com sua lata de coca-cola na mão. Os outros viviam com outras próteses: o homem colorido com sua bicicleta e seu capacete, a mulher segurando firmemente o volante de seu carro, o menino de óculos e celular. O homem lagarto só levava sua lata vazia, onde ele cheirava o resto do que não havia bebido, inalava o resto do resto do resto da sociedade que construía shopping, casas e condomínios sobre o mangue que o homem lagarto se banhava e que justificava sua vida, sua palavra e seu nome, que ele mesmo apelidou, mas que ninguém sabe, porque o homem lagarto vive embaixo da ponte, na sombra e sobra da vida.

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