Os
eus são muitos
transbordam pelos bolsos
multiplicam
os espelhos
e
os vultos.
Caem
pelas calçadas
varrem
as madrugadas.
Ultrapassam
os dias da semana
sou
mais do que sete.
Já
não sei quando mudo
segunda
se confunde com quarta
Raimunda
se confunde com Marta.
Amores
eu nem cuido.
Tantos
eus que nunca são nós
paralelas
livres de nós
uma
parede feita de janelas
vários
sóis
várias
paisagens e olhares.
Multiplicado
em esquadros, um prisma.
Existência
sem guarda-sol.
Composição
cubista
diferentes
perspectivas.
Este
que aqui está
desfaz-se
no agora
Este
eu só serve para se desfazer
inutensílio
despropositado
água
de chaleira
vapor
de banheira
desmanchar-se
em sobrado
até
sobrar o nado afogado
Desconstrução
poética
inicia
pelos pés descalços
no chão
finaliza
nas pontas dos dedos
da mão
somem
a tatuagem
o
piercing
o
cabelo colorido
some
a própria margem.
Quando
me desfaço
me
esqueço
encontro
o nada
lugar
de tudo
em
letras esparramado.
Acendo
o esqueiro
e
vejo o outro-não-mais-eu
morto
no que era meu
com
seu destino traçado
em
traços versados
em
traças.
Eu
mais uma folha de papel
pronto
para virar lugar de lixeira
ou
lembrança poética na parede.
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