sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nado-me em nada.

Os eus são muitos
transbordam pelos bolsos
multiplicam os espelhos
e os vultos.
Caem pelas calçadas
varrem as madrugadas.
Ultrapassam os dias da semana
sou mais do que sete.
Já não sei quando mudo
segunda se confunde com quarta
Raimunda se confunde com Marta.
Amores eu nem cuido.
Tantos eus que nunca são nós
paralelas livres de nós
uma parede feita de janelas
vários sóis
várias paisagens e olhares.
Multiplicado em esquadros, um prisma.
Existência sem guarda-sol.
Composição cubista
diferentes perspectivas.
Este que aqui está
desfaz-se no agora
Este eu só serve para se desfazer
inutensílio despropositado
água de chaleira
vapor de banheira
desmanchar-se em sobrado
até sobrar o nado afogado
Desconstrução poética
inicia pelos pés descalços
 no chão
finaliza nas pontas dos dedos
 da mão
somem a tatuagem
o piercing
o cabelo colorido
some a própria margem.
Quando me desfaço
me esqueço
encontro o nada
lugar de tudo
em letras esparramado.
Acendo o esqueiro
e vejo o outro-não-mais-eu
morto no que era meu
com seu destino traçado
em traços versados
em traças.
Eu mais uma folha de papel
pronto para virar lugar de lixeira
ou lembrança poética na parede.

 

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