domingo, 8 de setembro de 2013

Dever matinal

        Manuezito mantinha birra com a mãe. Ele queria brincar com os meninos da rua e ela apontava o chão da cozinha para varrer. Sempre foi assim, desde seus primeiros anos de vida. Voz grave e certeza no olhar, há coisas para fazer menino. Era o legado de sua tataravó, passado de geração em geração. E o menino fazia. Birriava e fazia. Varria o chão da cozinha que era o lugar mais sagrado da casa, lavava as verduras, passava as roupas, penteava os cabelos dos irmãos após o banho. O menino cresceu e aquelas palavras ressoam em seu ouvido, como se o ontem fosse hoje, como se a barba no rosto não escondesse a meninice infantil. É que o mundo é mais do que um moinho, são vários. Aquela casa era o mundo da mãe, cheio de coisas para se fazer. Sujeiras injustas entre as panelas. Ainda há muita coisa para limpar nesse mundo. A vida é isso, pensa o menino, um mundo cheio de coisas para fazer, até não haver mais sujeiras na cozinha.

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