sexta-feira, 19 de julho de 2013

Das (des)verdades.

      Zinho era um menino feliz, até começar a conviver com pessoas inteligentes, conscientes, críticas e estudadas. Deixou sua alegria de lado, porque felicidade é ilusão e o sorriso evidencia o conformismo e a aceitação de um ser manipulado. Isso Zinho não queria ser, fechou a cara e a boca, nunca mais sorriu. Entristeceu o olhar e livrou-se desse privilégio que é ser feliz.
     Apagou o amor também, pois amor é alimentação das entranhas do ego, é o mais puro egoísmo. Idealização e exaltação do desejo pessoal lançado como teia de aranha na face do outro. Egoísta ele também não queria ser, desamou.
    Para deixar seu egoísmo Zinho fez mais, recusou qualquer possibilidade de ter filhos, seria a duplicação do ego. Ego multiplicado num mundo doentio, falariam. Deixou de comer também, nada mais egoísta do que comer. Alimentar-se internamente e nutrir-se sozinho. Saborear qualquer prato de comida seria negar que tantas pessoas passam fome. Comer é um horror contra o outro e uma ação individualista.
      Com o passar do tempo, Zinho, parou de caminhar, pois o pisar é uma ação egoísta de sustentar o próprio corpo, de projetar-se a outro lugar, é a pura exposição e exibição mesquinha de sua imagem física. Caminhar é passar na frente e deixar o outro para trás. Imobilizou-se.
Zinho era livre, pois matou seu ego. De tanto não ser, não sorrir, não amar, não comer, não andar, Zinho sumiu. Virou poeira.
     As pessoas inteligentes se olharem e desprezaram a auto anulação de Zinho. Egoísta, falaram. Entrou no próprio umbigo. Tragaram o cigarro e voltaram e viver o instante-já, que de tão imóvel estava repleto de velhos musgos julgadores.

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