Zinho era um menino
feliz, até começar a conviver com pessoas inteligentes,
conscientes, críticas e estudadas. Deixou sua alegria de lado,
porque felicidade é ilusão e o sorriso evidencia o conformismo e a
aceitação de um ser manipulado. Isso Zinho não queria ser, fechou
a cara e a boca, nunca mais sorriu. Entristeceu o olhar e livrou-se
desse privilégio que é ser feliz.
Apagou o amor
também, pois amor é alimentação das entranhas do ego, é o mais
puro egoísmo. Idealização e exaltação do desejo pessoal lançado
como teia de aranha na face do outro. Egoísta ele também não
queria ser, desamou.
Para deixar seu
egoísmo Zinho fez mais, recusou qualquer possibilidade de ter
filhos, seria a duplicação do ego. Ego multiplicado num mundo
doentio, falariam. Deixou de comer também, nada mais egoísta do que
comer. Alimentar-se internamente e nutrir-se sozinho. Saborear
qualquer prato de comida seria negar que tantas pessoas passam fome.
Comer é um horror contra o outro e uma ação individualista.
Com o passar do
tempo, Zinho, parou de caminhar, pois o pisar é uma ação egoísta
de sustentar o próprio corpo, de projetar-se a outro lugar, é a
pura exposição e exibição mesquinha de sua imagem física.
Caminhar é passar na frente e deixar o outro para trás.
Imobilizou-se.
Zinho era livre,
pois matou seu ego. De tanto não ser, não sorrir, não amar, não
comer, não andar, Zinho sumiu. Virou poeira.
As pessoas
inteligentes se olharem e desprezaram a auto anulação de Zinho.
Egoísta, falaram. Entrou no próprio umbigo. Tragaram
o cigarro e voltaram e viver o instante-já, que de tão imóvel
estava repleto de velhos musgos julgadores.
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