Um
canto de nostalgia
no
sobrado da rua.
Uma
sobra que é o todo
mais
do que necessária
para
as lembranças dos três distintos
cavalheiros.
Sim,
distintos de diferentes palavras.
Vinícius
de Moraes e Toquinho também
estavam
ali,
Gal
Costa um pouco mais para cima.
E
estavam para além dos discos na parede, sorriam.
Estavam
no passado-presente-passado, dos três cavalheiros.
Arrisquei um “Me gusta la música brasileña”.
Os três me olharam com um azul de outros mares
De outras águas, talvez águas de março.
Lembrança, história e memoria dividindo o mesmo instante-já.
Por
mais paradoxal que seja.
- ow, brasileño?
- Claro, claro!
Livro aberto, poeira solta no ar,
Como se um tempo outro viajasse sob nossos pés
como se não estivéssemos mais na rua,
mas no sobrado da memória. Sobra de vida.
Cavalheiro 1, com o violão na mão,
Tirou o Toquinho que existia dentro de si e começou:
Um samba de uma nota só.
Não
fiquei por menos, arrisquei uma
Garota
de Ipanema no pífano.
Nisso
o cavalheiro 2 disse:
-
Me encanta Bossa Nova, para mim o melhor é Tom Jobim
Músico
completo, maestro, propôs algo distinto, reuniu muita gente boa.
Apesar
das letras do Chico Buarque serem pura poesia.
Cavalheiro
1 “Mas Jobim é uma coisa e Chico é outra coisa. Nada como Jobim e
João
Gilberto musicalmente. Chico é o maior poeta”.
Cavalheiro
2 “E Elis Regina? Nossa! Era artista, interpretava corpo e alma.
Cavalheiro
1 “E o que falar dos Baianos? Caetano, Gil
Maria
Bethania, a feia mais linda do Brasil, (todos riram, pobre Bethania).
Clara
Nunes, claro.
Para
mostrar que entendia do assunto falei um pouco do tropicalismo,
O
uso da guitarra elétrica, a ideia da geleia.
O
cavalheiro 3, que ainda nada havia dito, me perguntou:.
-
Sabia que a revista Veja vai mudar de nome para guaraná antartica?
-
Não,
por quê?
-
Porque
cansou de (ser)veja.
Sorri,
claro, claro, boa. (hã?)
Cavalheiro
2 reiniciou a conversa depois da fantástica piada.
“mas
no Uruguai também temos ótimos músicos e Bossa Nova também.
Eduardo
Mateo, produziu na mesma época de João
Gilberto,
Conheces
Eduardo Mateo?”
-
No, no.
“E
Ruben Rada? Jaime Roos, Numa Moraes?
-
Não,
no Uruguai só conheço
Jorge Drexler.
“Noooooooooo,
tens que ouvir outras coisas”
Pensei
comigo (não
fala do Drexler assim não cara, gosto bastante)
E
os cavalheiros começaram
a falar de muitos outros cantores
Era
como um discussão
de futebol.
Daniel
Vighieti é melhor
Não,
Totem
Candombe
de um lado
Tango
de outro
Bossa
nova
Cumbia
José
Carbajal
Kinto
Mas
Laura Canoura é mais completa
…
Os
cavalheiros regressaram nos anos 60, 70.
Eu
tinha que agir, resgatá-los do poço
do tempo.
“E
conhecem Tom Zé? Paulinho da Viola?”
Claro,
Paulinho da Viola! Nisso o cavalheiro 1 iniciou a cantoria:
“Desilusão,
desilusão, danço
eu dança
você na dança da solidão”
Eu
quase não
acreditava no que estava escutando, Paulinho da Viola ali, naquele
sotaque, naquela rua, naquele samba.
E
o cavalheiro 1 continuou “Gosto também do Martinho da Vila,
fui ao show dele, muito simpático, além de
Zeca Pagodinho, muita cerveja, e riu,
mas
Tom Zé não
conhecemos.
“Como
não, é muito bom, do tempo de Caetano e Gil, baiano também.
Mais
experimental, bem louco. E Mart´nália? Filha do Martinho?”
- -
Não,
não.
- -
Muito
boa também.
Depois
pegaram meu caderno de coisas desnecessárias e
listaram
a seleção
da música uruguaia, os técnicos escalaram seus melhores.
Nisso
as três mexicanas do hostel chegaram
- -
Ailton,
dónde estabas?
Eu
estava longe daquela rua, para depois da calçada,
Visitando
os anos de glória daqueles distintos cavalheiros
e
da música brasileira e uruguaia.
Saí
com uma contemplação
e com o desejo
de
viver por muitos anos
para
um dia também ser um distinto cavalheiro.
Os
três ficaram ali no sobrado
perdidos
no tempo.
Eu
segui passeio com as mexicanas
porque
um reggaetón também me pareceu muito interessante.
Segue
a seleção
dos distintos cavalheiros, o que entendi das letras deles.
Kinto
Eduardo
Mateo
Ruben
Rada
Jaime
Roos
José
Carbajal
Alfredo
Zitarroza
Numa
Moraes
Psigho-Rumbo
Laura
Canoura
Vera
Sienra
Totem
Hugo
Fatoruso
Los
Olimareños
Daniel
Vighieti
Tabaré
Etcheverri
Incluo
Alejandro Balbis, sugestão de Klara, uma artista plástica distinta
e lindíssima de Colonia del Sacramento.