sábado, 28 de julho de 2012

A rodoviária

Eu nunca sou quem eu gostaria de ser.
Tudo é muito rápido,
passa que nem vejo,
ou muito lento,
passa e nem chego.
A paisagem é de árvore.
Árvore        Árvore       Árvore...
cópias         cópias        cópias....
Várias delas
tão iguais, tão regulares
tão conformadas como árvores.
Vestidas conforme a moda, verde e marrom.
elas me olham
eu passo e elas ficam.
mas eu passo e não passo
eu continuo no mesmo lugar, alojado em mim.
sentado na poltrona, com os pés
descalçados e as mãos no joelho,
sem ato,
sem salto.
O poeta me diz para ver
o mundo com singularidades
para "transver" o mundo,
que sou mutável e mutante
mas minha bunda não sai do lugar
quem pisa no mundo por mim são
as rodas do ônibus. A rodas sim
essas rodam pelo mundo.
Engraçado, eu pareço rodar
repetidas vezes no mesmo chão
uma barata tonta é engraçada.
mas eu não queria ser uma barata
já foram antes de mim.
eu nunca sou quem gostaria de ser
talvez o problema seja gostar de ser
gostar não está tão gostoso ultimamente
e tudo segue rápido
tudo reduzido pela janela do ônibus
tudo quadrado
vejo árvores, fórmulas e explicações
as respostas já enxeram o porta malas,
a mala
e a história
nada fantástico
nenhum mistério.
O meu olho está defeituoso ou regulado?
eu desaprendi a olhar, como disse o poeta.
há algo muito errado em ver
verdades pela janela
na próxima parada eu paro
e desço
vou rodar pela rua
vou conversar com a roda
pisar no espinho, no desconhecido
O olhar do leigo, o pé torto.
vou guardar para depois quem
eu gostaria de ser - aquele que nunca sou.
ultimamente gostar virou compromisso
rotina diária, rota já percorrida
corrida até a esquina.
Não vou gostar por hoje
Agora eu vou gozar
sem lugar para chegar
lá onde moram as perguntas
o fantástico está no incerto.

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