Eles caminhavam
sobre as dunas.
Um sol de fevereiro penetrava nas entranhas das rugas mais profundas, iluminava qualquer intimidade, esquentava qualquer azul. Não só a testa, mas todo o corpo suava, como se fosse o meio de um rio, de água corrente, sem repetir suas águas e sua história.
O casal seguia lentamente, afundando passo a passo, sustentando um peso dobrado nos pés. Caminhavam sobre as dunas em direção ao horizonte estava tão longe.
Já não se chamavam pelo nome, qualquer coisa inominável dominou a relação. Eram dois corpos no meio do deserto.
Um sol de fevereiro penetrava nas entranhas das rugas mais profundas, iluminava qualquer intimidade, esquentava qualquer azul. Não só a testa, mas todo o corpo suava, como se fosse o meio de um rio, de água corrente, sem repetir suas águas e sua história.
O casal seguia lentamente, afundando passo a passo, sustentando um peso dobrado nos pés. Caminhavam sobre as dunas em direção ao horizonte estava tão longe.
Já não se chamavam pelo nome, qualquer coisa inominável dominou a relação. Eram dois corpos no meio do deserto.
Eles se amavam,
não duvidavam disso. Não igualmente, o que receberia uma conotação de
falsidade, amavam-se mutualmente, reciprocamente. Os dois únicos cúmplices da
existência um do outro. Ela não saberia dizer se conseguiria anoitecer sem
sentir o odor de velhice impregnado no travesseiro do companheiro. E ele não
saberia amanhecer sem a mistura de cheiros do café recém-passado e da casca de
tangerina vindos da cozinha.
Naquela tarde
eles completavam bodas de ouro e caminhavam sobre as dunas. Já não era mais
possível correr como antigamente, a vida era lenta. Ele usava um terno marrom
escuro com gravata borboleta vermelha. Na cabeça, não apenas para proteger do
sol, mas porque era sua característica marcante e seu charme juvenil, o ancião
usava seu chapéu panamá, devidamente surrado com o passar dos anos. Ela usava
um vestido longo vermelho, para combinar com a gravata borboleta, e um colar
que ganhara do pai no dia de seu casamento. Ambos estavam descalços e queimavam
os pés na areia.
Eles caminhavam
sobre as dunas, sob um sol de 40 graus e contra o vento. O vento soprava e
entoava canções longínquas, quase infantis. O casal caminhava de mãos dadas,
subindo e descendo morros. Até que a canção cantou distinta, de um tom que
lançou o chapéu panamá nos ares. Depois de anos o casal parou a caminhada, ele
pôs a mão na cabeça e não encontrou o chapéu. Sem olhar para a esposa, sem um
abraço de despedida, sem uma frase consoladora, o ancião soltou a mão dela,
virou as costas para o horizonte, mudou de direção, e caminhou para buscar o
chapéu, levado pela direção do vento. O velho seguiu seu galope sem olhar para
trás, e quanto mais andava mais o chapéu corria para longe. Ela ficou ali
parada, com as mãos vazias e com um vestido e uma vida que já não combinavam
mais com nada. Ele não alcançou o chapéu.
Ao longe ela
via-o esfarelar-se, aos poucos já não sabia distinguir amor e areia. Ele sumiu
sem pausas, só com a possibilidade de ida, como é a vida, ou, como é a morte.
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