A cidade
de Carolina é composta por pessoas. Seus telhados, suas portas, suas
paredes, seus alicerces, são pessoas. Culpa de uma arquiteta
forasteira que passou por lá. Assim, cada lar é parte de cada
sujeito, uma extensão da cor do olho, dos fios de cabelo, do formato
do seio. Não existe mapa de Carolina, pois diariamente as ruas
trocam de nome e de lugar. Cada casa muda de lugar com o seu dono,
porque cada dono é o seu lar. Nada é estático.
Quando é
dia de festas, todas as portas ficam abertas, e todos entram e todos
saem dos lares de cada um. O um é o outro e o outro é o um. Os mais
jovens sempre deixam as janelas abertas, que é para o vento nordeste
sempre trazer uma novidade da capital, com sopros de aventura e
revolução. E quando alguém se apaixona, os lençóis do coração
são trocados, para o aconchego do amor.
Somente
nas noites de lua cheia, os moradores de Carolina saem de suas casas.
Nessas noites ninguém dorme. São tempos de limpeza, uma faxina do
lar. Assim, cada um vai morar em seu sonho. E andam pelas ruas
levando seus sonhos amarrados por um fio, como se estivessem
carregando uma pipa. Caminham seguindo seus sonhos até a lua se
desencher, até se transformarem em pessoas novas.
Nessa
peregrinação, até hoje, ninguém sabe se são as pessoas que
carregam seus sonhos pela mão ou se são os sonhos que carregam as
pessoas pelo coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário