sábado, 12 de abril de 2014

A cidade de Carolina.

Inspirado no livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino.

A cidade de Carolina é composta por pessoas. Seus telhados, suas portas, suas paredes, seus alicerces, são pessoas. Culpa de uma arquiteta forasteira que passou por lá. Assim, cada lar é parte de cada sujeito, uma extensão da cor do olho, dos fios de cabelo, do formato do seio. Não existe mapa de Carolina, pois diariamente as ruas trocam de nome e de lugar. Cada casa muda de lugar com o seu dono, porque cada dono é o seu lar. Nada é estático.
Quando é dia de festas, todas as portas ficam abertas, e todos entram e todos saem dos lares de cada um. O um é o outro e o outro é o um. Os mais jovens sempre deixam as janelas abertas, que é para o vento nordeste sempre trazer uma novidade da capital, com sopros de aventura e revolução. E quando alguém se apaixona, os lençóis do coração são trocados, para o aconchego do amor.
Somente nas noites de lua cheia, os moradores de Carolina saem de suas casas. Nessas noites ninguém dorme. São tempos de limpeza, uma faxina do lar. Assim, cada um vai morar em seu sonho. E andam pelas ruas levando seus sonhos amarrados por um fio, como se estivessem carregando uma pipa. Caminham seguindo seus sonhos até a lua se desencher, até se transformarem em pessoas novas.
Nessa peregrinação, até hoje, ninguém sabe se são as pessoas que carregam seus sonhos pela mão ou se são os sonhos que carregam as pessoas pelo coração.

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