Tudo é desenhável
enquanto não seja nada
enquanto não valha nada
enquanto não busque nada.
......
Sobre saudade
A chuva já cessou
a poça e a goteira ainda molham
mas é água
que não sacia a sede.
......
A justiça é mais violenta
do que o caos.
......
A literatura
já não está
além de mim
[...]A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. Manoel de Barros.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
sábado, 12 de abril de 2014
Notícia: O menino que não vive sem água.
O menino, todos os
dias,
caminha dez quilômetros
para pegar água no
poço.
A água é utilizada
para coisas básicas
e essenciais,
tais como:
Matar a sede
lavar o corpo
pintar com aquarela.
Achados no chão do caderno
O quadro do céu.
Sonhei que fazia uma
cor no céu
na parede do meio dia
três pigmentos
mesclados
Preto
a noite se fez assim.
A tinta ficou em mim
fiquei anoitecido rubro
E você, andorinha,
não pousou mais no meu
jardim
voou para longe, além
dos muros
outros oceanos
num céu azul ciano.
Hoje, as corujas me
alimentam
e os vaga-lumes contam
histórias
para eu dormir.
____
Eu não sei aonde vai
todo esse amor que se
esvai
ex-amor?
Nunca mais?
____
Hoje o dia permaneceu
nublado
também fiquei em cima
do muro
entre a palavra e o
silêncio
Não fui a outro lado
Além de mim
aqui.
____
Quem me dera
escrever coisa nenhuma
ver coisa nenhuma
ser nada mesmo.
Mas ser coisa alguma
dita meu destino,
então poetizo-me
que é ação de
desperdiço
me encho de vazios
e nada fico
porque me quero
vivo.
Não importa aonde
leva,
mas que seja um lugar
que continue a levar.
A cidade de Carolina.
Inspirado no livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino.
A cidade
de Carolina é composta por pessoas. Seus telhados, suas portas, suas
paredes, seus alicerces, são pessoas. Culpa de uma arquiteta
forasteira que passou por lá. Assim, cada lar é parte de cada
sujeito, uma extensão da cor do olho, dos fios de cabelo, do formato
do seio. Não existe mapa de Carolina, pois diariamente as ruas
trocam de nome e de lugar. Cada casa muda de lugar com o seu dono,
porque cada dono é o seu lar. Nada é estático.
Quando é
dia de festas, todas as portas ficam abertas, e todos entram e todos
saem dos lares de cada um. O um é o outro e o outro é o um. Os mais
jovens sempre deixam as janelas abertas, que é para o vento nordeste
sempre trazer uma novidade da capital, com sopros de aventura e
revolução. E quando alguém se apaixona, os lençóis do coração
são trocados, para o aconchego do amor.
Somente
nas noites de lua cheia, os moradores de Carolina saem de suas casas.
Nessas noites ninguém dorme. São tempos de limpeza, uma faxina do
lar. Assim, cada um vai morar em seu sonho. E andam pelas ruas
levando seus sonhos amarrados por um fio, como se estivessem
carregando uma pipa. Caminham seguindo seus sonhos até a lua se
desencher, até se transformarem em pessoas novas.
Nessa
peregrinação, até hoje, ninguém sabe se são as pessoas que
carregam seus sonhos pela mão ou se são os sonhos que carregam as
pessoas pelo coração.
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