sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A força e a ação do tempo.

    Era uma vez uma cidade fantástica, onde as borboletas elegeram como ninho para o nascer de seu bater de asas, onde as pessoas se conhecem de infância, de coração puro e por isso fazem ressignificar as fronteiras da família. Nunca houve um roubo, uma traição, um crime. Nem mentira, nem verdade, as coisas existiam porque assim eram para existir, sem julgamentos finais e iniciais. Sem objetividade, pois não era preciso acertar, nem correr.
    Nessa cidade, onde a felicidade existia sem se dar nome, num belo dia, surgiu um professor de português, alfabetizador. O mestre encantou-se pela cidade e ali ficou por algum tempo. Na sua estadia ensinou os garimpeiros, os agricultores, as lavadeiras, os capoeiristas, a magia das palavras. Ensinou os moradores a ler e a escrever. Depois do importante a árduo trabalho o professor seguiu sua peregrinação pelo interior do país.
    A cidade ficou ainda mais fantástica. Placas, dando o nome das coisas, brotaram das mãos dos nativos. Nas estradas, singelas placas indicam o caminho e na mercearia do Amarildo, sobre a porta de entrada, ele escreveu seu próprio nome com orgulho.
    O filho do seu Amarildo aprendeu a escrever na infância, como todos os seus amiguinhos. Nessa época os primeiros poetas surgiram, assim como livros vindos da capital. Todas as miragens já tinham seus nomes e os sonhos aprenderam uma língua. Os netos do Seu Amarildo foram fazer universidade na capital assim que completaram o ensino médio.
    Hoje, a cidade fantástica está em ruínas.

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