sábado, 13 de outubro de 2012

Monólogo de meninos.

Eram dois meninos
cada um na sua infinitude.
Eram milhões de meninos
porque eram milhões de palavras
Outro que falava de despropósitos
Outro que falava de seriedades.
Fluidez e concretude.
Eles interagiam por meio do desentendimento.
Outro sorria, outro calculava
Outro construía, outro soprava
Outro planejava, outro lançava-se
outro era instinto
outro era cientista
Outro apontava, outro desconhecia
Outro inventava, outro também.
Era o próprio castigo de Deus, as chicotadas de Babel.
Mas como deus escreve o torto por linhas certas
Os meninos interagiam assim
Nas concordâncias do desentender
Cada um no seu tempo,
na sua cultura de desentender
e de insignificar as coisas
Porque os velhos já diziam:
Conversando a gente se arromba.
De um lado falava-se em peraltagens
Rãs, formigas, pássaros, árvores e cus.
Do outro lado falava-se em paradigmas,
Estereótipos, epistemologia e anus.
Outro se preocupava com o que se guardava
na caixa de pandora.
Outro se preocupava com o material da caixa,
para reproduzi-la.
Um mantinha o mistério
Outro criava as verdades, porque não descobria.
Descobrir a verdade é engraçado,
É supor que ela já existia.
Para outro experienciar o fantástico, já era o bastante.
Outro, outro, e mais outros outros.
Outros que incomodam
que apertam a nossa bunda, que nos fazem pular
e no pulo o chão muda
e é o medo da mudança do chão
que nos fazemos Narcisos.
Que mudamos os outros
deixando-os mudos.
É a pedagogia de significar as coisas
e decidir as palavras
e estabelecer os outros possíveis
mas os meninos se diziam
se diziam tanto
que tapar o ouvido
se olhar no espelho
foi preciso.
E as insignificâncias passaram a estabilizar sentido.
E a festa acabou
a luz apagou
não veio a utopia
e tudo mofou
sua doce palavra
se você gritasse
não existe porta
outros, e agora?

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