Quando eu estava martelando o vento, para concertá-lo, pois estava sopriando de maneira esquisita,
lembrei dos meninos de Barros.
Quando pintei a água que o passarinho bebe, me lembrei dos meninos de Barros.
Quando bebi água com os passarinhos que descansavam na sombra, esperando o sol do meio dia passar, me alembrei dos meninos de Barros.
Não que os meninos de Barros sejam feitos de barro,
mas de areia de praia que o siri joga fora,
do vento mal soprado,
do rio maratonista que não para de correr,
do pé descalçado com um espinho de rosa enfiado na ponta do dedão.
Com o barro que passeia a beira do rio,
com o barro que quebra o asfalto para respirar,
com o barro que a criança brinca de comidinha em sua cozinha de plástico
ou no barro que a criança utiliza como bolinha de arma de fogo e guerreia com as outras crianças da sua rua de barro.
Esse Barros sem forma, sem o dedo do artezão
moldando o todo do menino.
O menino de Barros Peralta,
poeta,
carregador de água na peneira.
O menino de Barros que ganhou um rio,
que espetou o vento,
que tentou pegar na bunda do vento.
Talvez, o menino que teve a não-soberania e foi ben-te-vi.
Poema escrito durante a digestão da leitura do livro "A Terceira Infância" do poeta Manoel de Barros.
Poema escrito durante a digestão da leitura do livro "A Terceira Infância" do poeta Manoel de Barros.