segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Porque Ela é Ela, Porque Eu sou Eu.



 A ARTIFICIALIDADE CONSTITUTIVA.

O que eu gosto na linguagem, na palavra, não é especificamente a palavra e seu corpo bem definido e seus sentidos indefiníveis, mas suas histórias. Seu tempo quando era pequenina, ainda criança. Seus tempos rebeldes, de seguir a modinha, ser tendência, como aquela vez que caiu na boca do povo, e de tão falada a pobre perdeu seus sentidos. Gosto mesmo é do que está por trás dela.

         Gosto de imaginar o quanto ela já foi usada, cotidianamente, gasta pelo sol forte, pela chuva, pelo vento e pelo homem. Palavras que gostam de sair à noite e outras que acordam cedo, aparecem logo de manhã. Penso em quantas vezes ela já foi jogada fora, sem cerimônias, depois da briga. Reflito quantas vezes foi discriminada injustamente.

          Acho que contigo não poderia ser diferente. Não me apaixonaria a primeira vista. Não me apaixonaria por seu corpo bem definido. O sentido, a graça, o valor não está nele. Atrás das letras está todo o sentido.

          A tua boca sempre será a tua boca. Seu pé sempre continuará feio. Sua pele branca e os seus olhos azuis, isso eu posso ver e todos podem ver. O legal está por trás de tudo isso, pois quando vejo os seus olhos, de longe, o que vejo são os meus olhos, é tudo meu, da minha cabeça, e no fim me apaixono pelos meus olhos.

           Agora, o seu gosto por purê de batata, o seu cuidado dedicado pelas plantas, e o seu desejo de ver um mundo melhor, são incrivelmente apaixonantes. Esses tais despropósitos apaixonantes. Essas histórias que se transformam e se acumulam a todo tempo, sem ordem cronológica, as quais eu jamais vou conhecer e compreender por completo, mas que servem como chão para a minha caminhada.

            É engraçado, me apaixono por ti com as minhas palavras e com as minhas leituras. Parece chato não é? Mas a graça está por trás de tudo isso.

             É a artificialidade constitutiva.




                  
PARA O CAFÉ DA MANHÃ.

Que o alimento seja farto
Mas que não nos fartamos dele
e que jamais seja desperdiçado no canto do canto do prato, esquecido,
pois bem sabemos que pessoas passam fome.
Que a fartura não se transforme em dependência entre quem dá e recebe.
Pois o amor é um alimento energético, de cadeia longa.
Faça com que o banquete transcenda qualquer mesa.
Pois não se pode moldar o amor com base no tamanho do prato e nem da mesa.
E que a base desse alimento esteja enraizada numa areia movediça, pois assim ele é livre.
Que não seja preciso fazer uma dieta balanceada,
pois a liberdade de se alimentar não deve resultar em azia, ou enjoo.
E que o coração compartilhe o alimento com a boca e com o estômago, pois é preciso fome.
E que meu amor te alimente corpo e alma
Mas que esse amor nunca sacie a sua fome de amar.
Pois a cada café da manhã estarei lá.
E que não tenhamos boas maneiras para comer, pois é necessário poder falar com a boca cheia. Eu te amo.




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