sábado, 25 de maio de 2013

do Inverno ao Verão.



            Nessa gelada noite de inverno, desenrolo-me do cachecol,
desfaço os nós.
Do cobertor me retiro, descubro-me aos poucos.
Lá fora os ventos sopram meus sonhos
Cá dentro meu lar desconstrói paredes.
Talvez isso seja eu, um cigarro mal tragado,
Jogado aos restos,
a rolar na rua,
esperando outra boca e outro pulmão.
Esperando não, pois o trafego da existência não permite pausas,
Sinal vermelho.
Nas ruas visito-me:
Os teatros fechados, as cenas
já não mais encenadas, encerradas.
As ideias paralíticas, não feitas, não ditas
Os beijos dentro do cinema demolido.
O devaneio infantil agora civilizado.
Na rua e só na rua,
Onde a lua me alumia
É que vagueia a vida
Em um riacho de lembranças minhas.
De ontem pra cá, dispo-me de fatos e calças,
de falas e casos,
de miragens e presságios.
Dos escombros
das memórias sobre os ombros de quem lembra.
Encontro meu lar no ar
no tempo do vento. Fora me vejo por dentro.
Porque a rua me diz, me lê
e passeia sobre minha estada.
Pontes, vielas e mares.
Tudo na mesma rua, esse rio
que navega dentro de mim, que jamais seca,
que jamais para, que jamais retorna,
porque é impossível entrar duas vezes no mesmo rio
e é impossível passear duas vezes
pelas mesmas vielas
do passado.
Lembrar é seguir as memórias por-vir
Que virão e verão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário