O gato estava andando pelos cantos
meio como quem quer entrar na parede
Diagnostiquei-o com gastrite
Minha avó sempre falava,
bom para gastrite é chá de espinheira santa
e eu sempre falo
bom para gastrite é poesia.
Então levei para o felino
Um chá quente
E um livro de poesia
E o gato fica assim
desequilibrado
Com aquele olhar de gato
Espreguiçando-se entre uma poesia e outra
Porque poesia é coisa para quem não tem o que fazer
É coisa para quem se banha com a língua
Para quem tem olfato para o lixo
Poesia é banhar-se com a língua
É brincar com a língua
E perder tempo com ela.
Gato nasce com uma vantagem poética
Amanhece diariamente com um novo olhar
brilhoso e lubrificado
Singular ao mundo
Descansado e bem disposto
a se impressionar com a vivacidade
de uma pedra
ou comover-se com a hipocondria do muro.
Então nos curamos da gastrite assim
O gato lê poesia
E eu leio aquele par de olhos incompreensíveis
porque livres
porque vivos
Viajo sem rumo
Incorporo sua liberdade
E já não sofro mais de gastrite
do olho.
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