No primeiro dia de
festas de carnaval
o menino se fantasiou
de ave.
Para o menino,
vestir-se de outro
era viver o outro,
constituir-se enquanto outro.
Por isso ele virou ave.
No fim de sábado o
menino falava
a língua dos pássaros.
No domingo dançava
desengonçado
como o pisar dos
pássaros.
Na terça-feira o
menino estava sobrevoando
o mar de gente, como
uma gaivota.
Era o menino gaivota,
com pena e bico.
Era para isso que servia
o carnaval,
para troca de
experiencias,
de histórias
de palavras.
E despir-se das roupas
e dos preconceitos.
Assim, o peixe se
vestia de lagarto
e ficava lá na pedra
lagartiando ao sol do
meio dia.
A formiga se vestia de
baleia e
derrubava,
propositadamente,
todos os foliões com
sua enorme calda.
O pássaro se vestia de
cobra,
queria andar arrastado
e
sentir o cheiro da
terra.
O carnaval era o maior
laboratória da vida
cheio de experiências
e descobertas.
O menino se transformou
em ave
aprendeu ave
respirou ave
respeitou ave
era como se virasse
irmão de todas as aves.
Era isso o carnaval
para o menino,
ser outro e amar outro,
em todos os dias do ano,
porque a única realidade possível era a fantasia.
porque a única realidade possível era a fantasia.
Marcelo se vestiu de
mulher todos os dias de carnaval
dançou
bebeu
gritou
como mulher.
Experienciou e amou a
mulher.
Na semana seguinte
Marcelo batia em sua esposa,
porque ela sorria
alegremente para o padeiro.
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