Sua busca por novas experiências, ou apenas experiências, começou logo após de se desvencilhar das raízes secas mergulhadas na terra do seu quintal de casa. Ela teve que seguir o vento, não tinha outra opção, tentava tombar o corpinho para o desconhecido, mas o vento, autoritário como é, lhe impôs o pré-estabelecido caminho da liberdade.
Caiu no terreno programado, não por ela, mas por outros, deveria ficar parada, armazenando energia, falaram que seu corpinho iria crescer com o tempo, folhas iriam nascer, e belas e coloridas pétalas iriam florescer. Daria frutos, cuidaria bem da família, deixaria suas sementes na terra antes de morrer. Mas criar raízes não era com ela. Preferiu cair de debandada pelo mundo, na madrugada, na manhã, na tarde. Queria conhecer as diferenças, queria juntar as diferenças, ou queria querer diferente.
Por esse tempo ouviu falar na omelete, gostou do que ouviu. Era uma comunidade igualitária. Tudo era dividido, tudo era misturado. Tudo era tudo. Um era tudo e tudo era um. Determinada como era não demorou muito para encontrar a omelete. Mas eis que ela descobre que o tudo é finito, pelo simples fato de afirmar que é tudo.
Ela: Oi omelete. Como você é bonita. Posso me desfazer e me misturar em você?
Omelete: Aqui não tem mais lugar nenhum, além do mais você é muito docinha para fazer parte do nosso corpo, temos regras aqui.
Ela era tão ingênua, sua tristeza era tanta que até comoveu o fio de cabelo que foi retirado da omelete aos palavrões, Ela realmente acreditava que a omelete seria um bom mundo para se viver. Sem fronteiras, só expansão. Estava na espera ânsia de haver uma omelete sem frigideiras, mas acontece que a omelete pula e volta a cair de cara no mesmo lugar.
Até o tudo a recusou. Ela percebe que não faz parte de tudo. Compreende seu vazio do mundo. E as coisas começaram a fazer não-sentido, ou o não-sentido começa a fazer coisas.
Esvaziou-se de vazio e ficou vazia. Foi então que ela se comeu e sumiu. Não ocupou mais espaços físicos. Agora ela flutua nos espaços infísicos.
E Ela está na espera ânsia de cairmos fora da frigideira um dia.